O sentimento de religiosidade é inerente ao Homem. É o sentimento natural que o faz reconhecer-se como filho de um Criador, d’Aquele que lhe dá a vida e à quem ele deve buscar numa atitude íntima de reconhecimento, gratidão e identidade para que encontre a verdadeira felicidade. O Pensamento Religioso expressa as diferentes maneiras com que o Homem, em diferentes épocas, identifica, interpreta e expressa a sua Religiosidade.
Historicamente, em todos os tempos e de um modo geral, vamos encontrar o ser humano expressando sua religiosidade através de práticas exteriores, tais como os rituais, os cânticos e danças, os símbolos e as palavras “mágicas”, bem como o sacerdócio organizado e a adoção de dogmas.
Até os dias de hoje, o ser humano tem atrelado o desenvolvimento de seu sentimento de religiosidade às sensações físicas e às percepções mediúnicas que os fenômenos de intercâmbio entre vivos e mortos sempre lhes possibilitaram, por serem estes naturais e frequentes e por ser o homem ainda pouco desenvolvido moral e intelectualmente.
Embora os fenômenos de comunicação entre os dois planos tenham sido o fermento responsável pelo desenvolvimento do pensamento religioso no Homem, antes do Espiritismo vamos encontrar, predominantemente, o que Emmanuel apropriadamente denominou de Mediunismo, ou seja, “práticas religiosas primitivas, sem desenvolvimento intelectual e cultural, caracterizadas por práticas mágicas”.
Por outro lado, em meio à histeria dominante nos momentos históricos de grande profusão fenomenológica, nunca faltaram o pensamento lógico e a abnegação amorosa de espíritos sábios, que sendo missionários do Alto, souberam fazer-se homens simples para deixar-nos a herança de doutrinas espiritualizantes e os exemplos heroicos de pacífica resistência à hipocrisia dos oportunistas ambiciosos e dominadores.
Com o advento da doutrina Espírita, o Mediunismo foi elevado à categoria de Mediunidade, ou seja, os fenômenos de intercâmbio entre encarnados e desencarnados foram submetidos à pesquisa racional e a descoberta da existência de leis naturais por detrás da realização desses fenômenos retirou-os do campo da Magia para torná-los parte da realidade da vida.
Encontrando respostas racionais para velhas perguntas, como - De onde venho? Para onde vou? Qual a finalidade da vida? - o pensamento religioso, que até então vinha recebendo uma forte influência mística, com a Doutrina Espírita teve a oportunidade de desenvolver-se mais apropriadamente, facultando ao Homem exercitar o sentimento de religiosidade, utilizando-se da fé raciocinada como instrumento e alavanca de seu progresso espiritual.
Tal como aconteceu com o Decálogo deixado por Moisés e o Evangelho de Jesus, o Espiritismo também constitui-se em uma Religião revelada, mas desta vez através de uma conjugação humano-divina.
Kardec formulou a tese da dupla revelação:
1- A que é dada pelos Espíritos Superiores encarnados ou por via mediúnica, em todos os tempos;
2- A que é feita pelos cientistas que investigam a Natureza, descobrem os seus segredos e os revelam no plano científico.
É dessa dupla revelação que se constitui a religião Espírita, que não se acomoda na fé cega, mas exige a fé raciocinada desenvolvida pelos fatos e pela razão esclarecida.
Com o advento do Espiritismo, uma nova Era despontou no horizonte, em que o Pensamento Religioso, intérprete e condutor da Religiosidade natural e pura que habita no ser humano, poderá desenvolver-se adequadamente sob a égide da fé raciocinada, encontrando o Homem, finalmente, as respostas aos seus questionamentos mais íntimos referentes à sua procedência, o seu destino e a sua missão, além de reviver em espírito e verdade a mensagem libertadora do Cristo.
Márcia Pacciulio
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